2007-02-06

Terror, ameaças e pornografia

Os partidários do não têm sido acusados de utilizar meios pouco éticos durante esta campanha. Porquê, ainda, não compreendi muito bem. Existem 3 ou 4 situações mais polémicas que têm sido utilizadas até à náusea pelo sim. Foi o caso da brochura a convidar os católicos a terem cuidado com o voto em ano de comemoração das aparições de Fátima (onde se aproveitava, ainda, para impingir uma cruz qualquer), foi o pároco que ameaçou de excomunhão quem votasse sim, foi o caso dos panfletos que as crianças de determinado colégio levaram para casa e provavelmente mais 1 ou 2 que, sinceramente, não recordo. Em primeiro lugar todos estes exemplos têm origem em representantes ou instituições da Igreja Católica. Não sendo eu membro ou crente da Igreja Católica, impressiono-me muito pouco com estes faits divers. Quem pertence à Igreja sabe ou deveria saber que esta instituição tem regras e modos de comportamento e aceitá-los ou não é da sua livre e total escolha. Eu não aceito e por isso eles que fiquem na vidinha deles que eu fico na minha. Se inscrever uma criança num centro paroquial sei de antemão que a formação que ali vai ser ministrada terá uma enorme vertente confessional. Ninguém me obriga a inscrever ali qualquer criança: fazê-lo ou não depende da minha vontade. Mas pode essa vontade ser pervertida por qualquer razão que deveria ser exógena, como estar mais perto, ser mais barato, etc.? Realmente pode. Mas essa é uma conclusão que deriva do facto de a Igreja, por muito mal que por vezes proceda, trabalhar muito em prol da sua comunidade. E se quando procede mal é atacada, também lhe deveriam ser reconhecidos os méritos de grande parte da sua actuação.
Muitas situações poderiam ser expostas e que tiveram o cunho dos apoiantes do sim, mas esse não é o caminho. Acredito que as pessoas saibam fazer a distinção entre o que é relevante e que o não é.
No entanto, servem os exemplos acima, apesar de irrelevantes, para defender que os partidários do não utilizam meios pouco éticos. Na verdade, o que se pretende evitar é que o Não chame os "bois pelos nomes". Pretende-se evitar que se fale dos fetos (embriões, crianças, bebés, etc.), que se mostrem imagens do que é o aborto, que se divulguem números e factos científicos, que se explique que a IVG não é uma interrupção (que segue dentro de momentos) é uma exterminação, etc.. O que interessa é que se não fale da realidade e da verdade. O que interessa é que se não explique o que realmente se passa e acontece com um aborto. Porque a única realidade que o sim sabe esgrimir é a do aborto clandestino. E escora-se na clandestinidade para não apresentar um facto ou número acerca do mesmo. Apenas agita essa realidade de passagem sem aprofundar porque sabe que se o fizesse os argumentos lhe seriam prejudiciais. Não apresenta soluções humanas viáveis. Apenas a liberdade total para praticar algo que, consensualmente, é mau. Sabendo de antemão que o aborto clandestino continuará a existir (com números mais baixos, é certo) mesmo com a liberalização. Nem sequer propõem a criação ou reforço de sistemas que ajudem a evitar que a mulher fique grávida sem o desejar ou, então, a apoiá-la de modo a não abortar. Alguma alma mais mal intencionada poderia pensar que afinal não pensam que seja um verdadeiro mal.
A minha sensação com todo este tempo de campanha e pré campanha é que o Não tentou (algumas vezes mal) esclarecer e fazer passar a mensagem da defesa da vida. O sim limitou-se a agitar fantasmas ou a apresentar rebuscadas construções mentais, a maior parte das vezes, baseadas em falácias e que desaguavam em sofismas. Sempre me pareceu que o sim não quer ouvir falar da verdade e da realidade. Porque se o Não está disposto a entender que existe aborto clandestino e é preciso trabalhar para o mitigar, o sim tem medo de compreender a existência dos factos que foram um a um suscitados nesta campanha. Pior, gostava, mesmo, é que se não falasse deles. Como se reconhecê-los fosse reconhecer a razão. Como se reconhecê-los transformasse toda a gente em apoiantes do Não.