2007-01-25

A questão do aborto não se poderá colocar hoje, no século XXI, do mesmo modo que se colocava há alguns anos ou décadas atrás. Existem hoje dos mais acessíveis e variados métodos anticonceptivos; existe até a pílula do dia seguinte. São métodos baratos, eficazes e amplamente divulgados.

Por razões humanistas, no seu sentido mais lato, não considero muito ético o facilitismo com que os defensores do aborto tratam o tema. Aceito como razoável que as sociedades comunistas do princípio do século XX, como as antigas repúblicas soviéticas, de uma racionalidade mecanicista e sem grandes meios, “resolvessem” questões como o aborto, assim, com esta facilidade. Nos tempos actuais, este facilitismo de resolver dificuldades parece-me anacrónico e eticamente reprovável.

Dizem-nos, somos um dos últimos países europeus a não ter uma lei do aborto mais permissiva. Mas que Europa? A Europa dos monopólios que segundo os dados da própria Comissão europeia nos revelam que“a parcela de riqueza que é destinada aos salários é actualmente a mais baixa desde, pelo menos, 1960 (o primeiro ano com dados conhecidos). Em contrapartida, a riqueza que se traduz em lucros, que remuneram os detentores do capital, é cada vez mais alta.”
Será com os “exemplos” desta Europa que nos querem convencer da bondade da proposta da nova lei do aborto?

Por outro lado, não se entende que os argumentos dos defensores do sim, se restrinjam às 10 ou 12 semanas. Os argumentos são do mesmo modo válidos para as vinte, trinta ou quarenta semanas. O ser gerado no ventre da mãe não oferece nenhuma alteração qualitativa, nenhuma salto qualitativo no seu desenvolvimento contínuo que permita estabelecer diferenças, datas ou prazos para o aborto.
É uma assunção mecanicista, quanto a mim, muito pouco evoluída.

Este equívoco e esta contradição, retira quanto a nós, toda a força de argumentos aos partidários do sim. Os exemplos dos países comunistas são válidos porque à luz da evolução tecnológica de então seria "aceitável" uma tal solução. Manter soluções iguais, hoje, parece-me uma atitude retrógrada perante o problema. Parecendo progressista, o sim ao aborto, traduz hoje, uma posição conservadora perante a vida e a sociedade, fruto de um racionalismo mecanicista e economicista.

Não tenho nenhuma "irritação" quanto aos partidários do sim. Move-lhes a vontade de solucionar este problema social. Só que a “solução” preconizada não será aceitável no actual estágio da evolução humana, no estágio dos direitos humanos alcançados já pela humanidade.

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